domingo, 30 de março de 2014

A família Carabel e a Fábrica de Chocolates de Castro Laboreiro

(PARTE II)

Germano Carabel, já depois de regressar dos Estados Unidos.

Foi por adorar o Chocolate Carabel que Aurora Rodrigues, uma bonita viúva de Melgaço com bens no Brasil, se enamorou de Germano Carabel. Foi pelo Setembro de 1920, no fim da romaria da Senhora da Peneda. Aurora tinha ido lá com a mãe, D. Ana, em cumprimento de uma promessa. Rezou, benzeu-se e, antes de regressar a Melgaço, quis comprar chocolates. Germano estava em fim de feira e só tinham sobrado duas tabletes. Aurora insistiu que precisava de mais. Germano e o irmão Abílio arrumavam a banca dos chocolates. Aurora fora lá cumprir promessa e não queira regressar a casa sem levar tabletes de chocolate para oferecer a amigos e caseiros. Até parecia mal não levar nada. Mas só sobravam duas tabletes. Era pouco. “Quando é que fazemos mais chocolates?”, perguntara Germano ao irmão. “Para a semana...”, retorquiu Abílio. “Pois minha senhora: na próxima semana sou eu mesmo que lhas levo a sua casa, a Melgaço. Fique descansada.”
Aurora e Germano não paravam de se entreolhar nesse fim de feira. Foi em Setembro de 1920. Em 25 de Dezembro, dia de Natal, desse mesmo ano, casavam-se. Amaram-se até ao fim da vida. Aurora morreu aos 45 anos e o marido faleceu seis anos depois, também com 45 anos (era mais novo que ela seis anos).
Anos antes, Germano Carabel viu-se sozinho em Havana, Cuba, mal o obrigaram a desembarcar. Tinha 14 anos. Fugira da casa paterna, em Castro Laboreiro. Queria ir para a América, mas entrara no navio em Vigo, como clandestino. O capitão apanhou-o, pouco depois de terem zarpado de Vigo, mas condescendeu que fosse até Cuba. Depois que se arranjasse. Até lá, a viagem ser-lhe-ia penosa, pois o dinheiro escasseava. No navio viajava um galego que queimava o tempo a tocar concertina. Germano sabia tocar acordeão. Pediu então ao galego que lhe deixasse experimentar a concertina. Os passageiros deliciaram-se com o jeito do rapaz. Proporcionou mesmo momentos animados no alto mar. As moças galegas insistiam que ele tocasse, e passaram boa parte da viagem a dançar. “Cartos, cartos” (dinheiro, dinheiro!), reclamava o dono da concertina aos patrícios. As moedas tinham que cair, senão o rapaz não dava música, nem fazia dançar ninguém. Não fosse assim, e Germano também não teria arrecadado tanto dinheiro para gastar na viagem. Chegado a Havana, foi deixado à sua sorte. Quase sem dinheiro, dirigiu-se a uma pensão e pediu emprego. Mal pôde, mandou carta para Castro Laboreiro, pedindo perdão ao pai, Domingos Carabel. E dava conta que precisava de dinheiro para chegar à América. Domingos Carabel escreveu a um compadre nos Estados Unidos e conseguiu que o filho chegasse à América. Regressou a Castro Laboreiro poucos anos depois, já o pai tinha falecido. Mas continuou com o seu irmão Abílio a fábrica de chocolate que o pai fundara.

A Família Carabel era mão para toda a obra. O fabrico de chocolates constituía a sua principal fonte de rendimento, mas, não contente com o que ganharia com isso, ainda tinha loja aberta, em Castro Laboreiro. Entre tamancos, miudezas e fazendas, também arranjava tempo para tratar de caixões e funerais. Mais tarde, começara a publicar a publicar um jornal, “A Neve”. Utilizava-o até para anunciar os seus esmerados chocolates. A  publicidade era também deliciosa nos dizeres: Quereis um bom casamento? – Tomai o chocolate da afamada fábrica “Caravelos” de Castro Laboreiro, que atrai a simpatia”. A alcunha era “Carabel”, mas vá-se lá hoje saber qual o porquê da designação de “Caravelos” no dito anúncio. O jornal surge já quando a fábrica estava sob a gerência dos irmãos Abílio e Germano Carabel. Ambos eram redatores do jornal, tinham jeito para a escrita. Sobretudo, o Abílio Alves Carabel. Ainda se está para saber que guinada deu aos irmãos para fazerem um jornal no meio de uma serra tão agreste como a de Laboreiro. O diretor era um tal Abílio Domingos, professor primário, que depois se radicou em Braga, onde morreu. Seriam os três que financiavam o jornal, mas que deixou de se publicar, quando Germano Carabel foi dirigir a filial em Melgaço da Fábrica de Chocolates Carabeis Sucessores, antes de ter viajado para o Brasil, com a mulher e filhos, onde permaneceu alguns anos para gerir os bens da esposa. O negócio das fazendas e dos tamancos já viria do tempo do velho Domingos Carabel, pai de Abílio e Germano. O dos caixões e funerais terá surgido depois. A Fábrica de chocolates deixou de laborar há cerca de 70 anos.


Para ver a 1ª parte desta reportagem, clique em
 http://entreominhoeaserra.blogspot.pt/2014/03/a-familia-carabel-e-fabrica-de.html


Informações extraídas de:
- "A Fábrica de Chocolates da família Carabel e os sabor que se desfez ao redor de... Castro Laboreiro", reportagem de Pedro Leitão in: SIM, Revista do Minho, nº 143 de Dezembro de 2013.


Nota: Um enorme OBRIGADO à Sra. Teresa Lobato. Ao jornalista Pedro Leitão, um especial OBRIGADO por esta magnífica reportagem e pela partilha!

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